domingo, 16 de maio de 2010

Uns chegam, outros partem, é o curso da vida...

Pois é, Yasmin nasceu há 1 ano, está linda, grande, anda, dança, canta, fala mama, babbo (pai, em italiano), Lua (nossa cachorra), dente, papa, sapato, opa, isso, água, tá uma figura!! E é a nossa jóia, o que nos dá força, alegria e leveza pra continuar caminhando...

Neste mesmo 1 ano, morreram minhas duas vózinhas... Ai, que triste! A nonna Antonia, italiana forte, morreu de repente ano passado com 96 anos, deixando meu nonno Innocenzo, com 107 anos, sozinho, tadinho... Ele ainda tá lá, firme e forte, apesar da tristeza de estar só e de não querer comer mais. Eu queria saber qual o segredo da saúde e longevidade italiana...


E olha que eles vieram da Itália depois da segunda guerra mundial, na qual meu avô foi soldado. Trouxeram os 7 filhos, meu pai tinha 8 anos. Aqui trabalharam muito, meu avô foi pedreiro, pipoqueiro, e construiu sua casinha. Alguns filhos casaram, lhes deram netos, bisnetos, tataranetos... Com eles, aprendi a ser prudente, séria, persistente, forte, mas ao mesmo tempo doce e alegre.

Já a siti Fátima, forte também, resistiu 2 anos na cama, sem andar, nos últimos tempos sem comer e quase sem falar. Com ela tive uma vida inteira de vivência! Com ela ficava quando minha mãe precisava, ou quando ela precisava de mim, já mais velhinha. Com ela e meu avô, gido Ahmed, querido, que já se foi há 2o anos...

Com ele caminhava, ia aos parquinhos, via as flores... Ah, o pé de jasmin que ele mesmo plantou, ou Yasmin em árabe, por ele minha filha se chama assim. Minha mãe querida fez uma mudinha, está crescendo forte, ainda falta plantar no chão da nossa casinha, quando for a hora dela chegar, e junto plantar a placenta que alimentou Yasmin por 9 meses. Sim, ela tá congelada na geladeira ainda!

Ah, as romãs, a hortinha, da qual ele colhia salsinha e hortelã pra minha avó cozinhar, e eu comia uns raminhos de tão cheirosos que eram, o jardim tão cuidadinho... O cigarro de palha, que ele mesmo fazia moendo o fumo naquela caixinha... As estórias do deserto, as fogueiras para assar batatas, as uvas, a raposa que vinha roubar a comida à noite...

Com ele, aprendi que a família é a coisa mais importante da vida, e que devemos lutar para mantê-la harmoniosa e unida. E os amigos, os bons amigos, estes duram pra vida inteira. Me ensinou a respeitar as diferenças, sejam elas de raça, religião, opinião. E que o mundo deveria ser mais pacífico e igualitário.

Com a siti aprendi a não jogar comida fora (rsrsrs), a ser econômica, a ser ativa, a cozinhar, a respeitar os mais velhos, os amigos, os irmãos, a me dedicar aos estudos. A costurar, nem tanto, isso foi minha mãe que aprendeu, e muito bem por sinal! Ah, os cheiros daquela cozinha, as esfihas, charutinhos, abobrinhas, coalhada seca, pão árabe, hortelã seco, michui, kafta, arroz com beringela, tabule, coalhada quente, coalhada com pepino... É, as lembranças vão ficar marcadas pra sempre na minha memória...

Faço aqui uma homenagem a estes quatro seres iluminados, que me ensinaram tanto, e que continuarão vivos na Yasmin, em seu sangue, em seu DNA, em sua história... Um pedacinho de cada um deles, que vão ficando eternizados através das gerações... Que suas trajetórias de vida continuem presentes neste mundo por muitos e muito anos... Com brilho, força e alegria...

sábado, 8 de maio de 2010

A dor e a delícia de ser mãe...

Ser mãe é sofrer e sorrir. É estar triste e cantar uma alegre canção. É chegar à exaustão e ter forças pra carregar o filho. É sentir fome e amamentar. É querer dormir e fazer dormir seu filho. É amar sem esperar ser amado. É estar triste e feliz ao mesmo tempo. Será isso possível?
Estou muito feliz, e tem dias em que minha felicidade é tão grande, que nem caibo em mim... Mas tem dias em que me sinto muito sozinha. E aí penso em como era minha vida antes da Yasmin. Ai, que culpa pensar assim...

Sinto culpa por querer tomar um banho mais longo, comer tranquilamente, fazer cocô com calma, dormir até tarde, ler um livro, sair, namorar, fazer as unhas, assistir TV, ouvir música, ou não fazer nada... Queria voltar a ter controle sobre a minha vida.

Mas, ao mesmo tempo, não me vejo sem a Yasmin, sem seu sorriso e seus olhos enormes. E este é o grande ganho, ter uma companheira pra vida inteira. Pra juntas caminhar, aprender, rir, chorar, crescer, amar... No fim, ser mãe é muito difícil, mas também é muito lindo! E não me vejo mais sem este serzinho que me alegra todos os dias...